quarta-feira, junho 14, 2006

 

Jogo dos cinco erros


 

Andei dizendo isso em mesas de boteco na última semana, e devia ter postado aqui no SóMambaia antes do Brasil x Croácia de ontem só pra não me chamarem de oportunista.

O oba-oba, a tietagem e a badulação explícita impediram uma reflexão mais sóbria por parte da imprensa esportiva brasileira sobre as cagadas da CBF e de Parreira na preparação da seleção para esta Copa do Mundo. Algumas delas:

1 - Falta de amistosos: Durante todo o ano de 2006 até a Copa, o Brasil só fez 2 amistosos (porque o jogo contra o combinado de Lucerna na verdade foi um jogo-treino com cara de amistoso, pra Globo transmitir), sendo um contra a Rússia em 1º de Março e o outro contra a Nova Zelândia já às vésperas da Copa. O próprio Parreira reconheceu, em algumas entrevistas coletivas, que não queria testar o time contra adversários mais fortes às vésperas da Copa, e sim dar entrosamento, porque a equipe ficou meses sem se reunir. Bem, não se reuniu porque não quis. Na era Zagallo (95-98), a Seleção, pré-classificada para a Copa seguinte, jogava um amistoso a cada virada da Lua. Agora, a CBF está pecando pela falta, não mais por excesso. Será que não quiseram pagar o milionário cachê da CBF-Nike?

2 - Falta de entrosamento no ataque: Em virtude do problema acima, ocorre o de baixo. O festejado "quadrado mágico" Kaká-Ronaldinho-Ronaldo-Adriano jogou junto pouquíssimas vezes em jogos competitivos. Na Copa das Confederações do ano passado, quando o Brasil, depois de uma estréia com derrota pro México, enfiou côco em todo mundo, firmando-se como favorito à Copa do Mundo, Ronalducho não estava. Na conquista da Copa América de 2004, o Brasil jogou com uma espécie de "time B", ocasião em que Adriano conquistou vaga no ataque titular. No jogo contra a Croácia, ficou evidente que Ronaldo e Adriano estavam jogando na mesma faixa de campo, quase se trombando, e quando o Adriano voltava ao meio pra buscar a jogada (o Ronaldo, fora de forma, não voltava quase nunca), faltava qualidade. Só a entrada de Robinho, retornando o ataque à configuração da Copa das Confederações, consertou o time.

3 - Defesa aberta: Em 2002, Felipão sabia que Cafu e Roberto Carlos jogavam como alas nos seus clubes, e que os dois subiam e não voltavam. Para corrigir o problema, montou o time no 3-5-2 para cobrir as laterais, deixando os dois livres pra apoiar o ataque. Em 2006, repete-se o problema, agravado pelo implacável avanço da idade: Roberto Carlos hoje tem 33, e Cafu 36 anos. E o que o Parreira me faz? Mantêm o 4-4-2 de antanho, deixando Lúcio e Juan pra se virar lá atrás. Émerson, quando dá, volta, mas falta-lhe agilidade. Parreira poderia consertar isso escalando o Edmílson, cortado por contusão - não dá pra contar com a sorte sempre. Contra a Croácia, Lúcio e Juan jogaram como nunca, mas é bom não se enganar, pois são apenas limitados. Basta uma atuação ruim de um deles contra um ataque eficiente e o Brasil volta pra casa mais cedo.

4 - Arrogância: Contaminado pelo oba-oba e favoritismo, Parreira falou algumas bobagens em entrevistas que demonstram uma certa displicência em relação à competição. Disse, por exemplo, que sente-se não como um treinador de futebol à frente da Seleção, mas como um "gestor de talentos". Sobre a Argentina, disse não acreditar em uma final entre os 2 gigantes sul-americanos, pois "se Argentina e Brasil seguirem por caminhos vencedores, se enfrentam antes da final" - o que está incorreto. Disse que não tinha acompanhando um amistoso recente da Croácia, mas que já sabia que a Croácia jogava no 4-4-2 (quando, na verdade, é quase um 4-3-3). Enfim, a postura dele é a de quem só precisa sentar e esperar os craques fazerem seu dever.

5 - O técnico: Finalmente, cabe dizer que o principal equívoco da Seleção é justamente o Parreira. Desde a conquista do tetra, há 12 anos, Parreira não se destacou em nenhum dos clubes brasileiros que treinou, conquistando apenas um Campeonato Brasileiro - o da Série C, pelo Fluminense. Fora isso, teve algumas passagens pelo Oriente Médio que enriquecem muito mais o bolso que o currículo de alguém. Técnico por técnico, Felipão seria uma aposta muito melhor, e a CBF, se tirar o escorpião do bolos, podia ter contratado-o de volta com seus Nike-dólares após a derrota de Portugal na final da Eurocopa de 2004. Leão e Wanderley Luxemburgo, apesar de todas as ressalvas que possam caber sobre eles, também são tecnicamente bem superiores ao velho Parreira. Mas a CBF parece querer alguém pacato, típico funcionário público, pra fazer como o antigo Aymoré Moreira: deixar o time jogar enquanto cochila no banco de reservas.

 

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segunda-feira, junho 12, 2006

 

Clichês de começo-de-Copa: "nível técnico tá muito fraco!"


 

A cada 4 anos é a mesma história: a Copa começa e, no terceiro dia, já tem gente exagerando nas análises e soltando pérolas como a aí de cima.

Vai por mim: acompanho Copa do Mundo desde 1990 (apesar de ter vagas lembranças desconexas de 86 que me deixaram com ódio revanchista da França, posteriormente transferido para o coitado do Alain Prost), e é sempre a mesma conversa.

A Copa de 90 ficou conhecida como a do "futebol feio", retranqueiro, com reduzida média de gols. A Irlanda ficou famosa por chegar às quartas-de-final daquela Copa empatando todos os jogos em 1 a 1 ou 0 a 0, até perder pra Itália. Mas, por outro lado, foi uma Copa com Maradona, Caniggia, Van Basten, Gullit, Careca, Müller, Maldini, Klinsman, Lothar Matthaus, Lineker e o futebol alegre do surpreendente Camarões. Sem falar que os poucos azarões não eliminaram os melhores times, possibilitando épicos duelos como Argentina x Brasil, Itália x Argentina, Alemanha x Inglaterra, Holanda x Alemanha e a finalíssima repeteco Argentina x Alemanha.



Pra 94, a FIFA mudou algumas coisas, dando 3 pontos pra vitória, impedindo o recuo pro goleiro e orientando os juízes a punir com mais rigor a violência e o anti-jogo. Mas de novo, reclamaram do futebol feio. De fato, 94 foi uma entressafra de craques jogando sob o calor escaldante do verão americano em horários feitos sob medida pra TV. Mas a Romênia, a Holanda e a Argentina (até Maradona e Caniggia serem pegos no anti-dopping) jogavam bonito. E, quando faltou técnica, houve emoção de sobra, principalmente na dramática final em que Brasil e Itália esbanjaram incompetência.



Quem já reclamava do nível técnico da Copa começou a ter chiliques e piripaques quando a FIFA elevou o número de equipes particantes para 32, ao invés de 24 como antes, abrindo vagas a rodo pra África, Ásia, América Central e do Norte. Teve jornalista que choramingou a primeira fase inteira, tendo que cobrir partidas até então inimagináveis numa Copa do Mundo como EUA x Irã, Jamaica x Japão e Arábia Saudita x África do Sul. Mas embora não houvesse nenhuma equipe excepcional naquela Copa, Holanda, França, Croácia, Iugoslávia, Argentina, Inglaterra e até o Brasil tinham seus momentos de brilho. Sem falar em grandes duelos das quartas-de-final em diante: Argentina x Holanda, Itália x França, Brasil x Holanda e o memorável 3 a 0 imposto pela Croácia na decadente Alemanha. Pena que todo mundo só lembra dessa Copa pra especular sobre o "troço" que Ronaldinho sofreu antes da final.



Veio 2002, e tome a mesma vitrola quebrada. O fato da FIFA sediar o mundial no Japão e Coréia do Sul, dando a 2 seleções meia-boca a cabeça de chave e avacalhando o sorteio todo - possibilitando a criação de um "grupo da morte" ridiculamente difícil foi só o começo do problema. Depois, vieram as arbitragens suspeitas para os times da casa, e os favoritos foram caindo antes da hora. Por outro lado, o Brasil tinha sua melhor seleção em muitos anos, com Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho em grande fase. Uma Copa de um time só ainda assim pode encher os olhos - vide Holanda em 74. Além do Brasil, mas num plano existencial abaixo, podíamos citar a própria Inglaterra e o azarão Senegal como destaques daquele torneio.



É natural que a Copa do Mundo seja disputada num nível técnico um tanto inferior ao que se vê nas milionárias e globalizadas ligas européias. Afinal, os jogadores vêm de uma temporada longa, estão menos entrosados que em seus clubes e jogam priorizando a retranca, já que na Copa toda partida é decisiva e uma derrota, mesmo que na primeira fase, é quase uma garantia de fracasso. Os tempos da Copa do Mundo como única oportunidade de ver os astros do futebol de diferentes países se enfrentando já ficaram para trás há uns 20 anos. É um processo irreversível, exceto se alguém estiver disposto a pagar aos jogadores sul-americanos e africanos a mesma fortuna que ganham em seus clubes para se dedicar somente à seleção e às falidas ligas de seus países.

E parem de reclamar, afinal, quem assiste Campeonato Brasileiro não pode reclamar de nível técnico - ainda mais atleticano, agora acostumado à horrenda Série B.

 

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domingo, junho 11, 2006

 

Copiaram minha idéia!


 

Foi só eu falar, aqui no SóMambaia, que seria uma boa fazer uma camisa 12 pro Rogério Ceni entrar como jogador de linha pra cobrança de pênaltis e o Galvão Bueno já foi perguntar ao Arnaldo César Coelho se tal coisa era possível. O comentarista de arbitragem ficou de pesquisar, afinal, o Ceni foi inscrito na Copa como goleiro.

De fato, a FIFA exige que, dentre os 23 jogadores inscritos por cada seleção participante da Copa, 3 sejam goleiros. Até a Copa de 98, as seleções podiam inscrever 22 jogadores (um a menos que hoje), mas não havia a exigência de 3 goleiros - a maioria levava 3 por precaução, mas algumas achavam que 2 bastavam e levavam um jogador de linha a mais. Talvez incomodada com a possibilidade de uma seleção ficar sem goleiros durante a Copa, a FIFA fixou essa exigência de 3 goleiros a partir de 2002, mas ampliando para 23 o número de inscritos, satisfazendo todas as partes.

Como o Rogério foi inscrito como goleiro, a FIFA poderia "encasquetar" com sua escalação na ponta-direita, por exemplo. Poderia dizer que a delegação brasileira burlou o regulamento, ao inscrever um jogador de linha como goleiro. Claro que isso seria uma grosseira ignorância, já que é público e notório que Rogério Ceni atua como goleiro pela Seleção e pelo São Paulo. Basta explicar que Rogério é um goleiro-atacante.

Aliás, alguém se lembra que o lendário goleiro mexicano Jorge Campos atuou na Copa de 98 usando um uniforme idêntico ao dos jogadores de linha, porém invertido?



Claro, se o time estivesse de verde, ele jogava de branco, e vice-versa. Imagino que a idéia era, dependendo do jogo, tirar algum jogador de linha e colocar o goleiro-reserva, que levaria pro Campos a camisa 1 de linha, para que este "subisse" para o ataque. O Campos fazia isso direto jogando pelo UNAM, na liga mexicana. Só que na Copa do Mundo não tiveram coragem.

 

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sábado, junho 03, 2006

 

Candidato a saco de pancada na Copa: TOGO


 

Togo, o menor e mais obscuro país africano a disputar uma Copa do Mundo, fez um amistoso de preparação nesta sexta-feira contra a seleção de Liechtenstein, em Vaduz, e venceu por um mísero 1 a 0.

Para se ter uma idéia da gravidade da situação: Liechtenstein é um minúsculo principado entre a Suiça e a Áustria, onde vivem 33 mil almas. Ou seja, jogar contra Liechtenstein é mais ou menos como enfrentar uma seleção de Matozinhos (MG).

Bom, vai ver o técnico tava usando o amistoso para testar modificações, jogadores reservas, e não estava preocupado com o resultado. Melhor que seja assim.

 

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 Os  Autores

 Nikolas Spagnol - Jornalista, atleticano sofredor, tradicional saco de pancadas do futebol de botão e frangueiro de pelada.

 Bruno Caldeira - Publicitário, atleticano sofredor, joga no ataque quando está bêbado e na defesa quando ressaqueado.

 

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