segunda-feira, junho 12, 2006

 

Clichês de começo-de-Copa: "nível técnico tá muito fraco!"


 

A cada 4 anos é a mesma história: a Copa começa e, no terceiro dia, já tem gente exagerando nas análises e soltando pérolas como a aí de cima.

Vai por mim: acompanho Copa do Mundo desde 1990 (apesar de ter vagas lembranças desconexas de 86 que me deixaram com ódio revanchista da França, posteriormente transferido para o coitado do Alain Prost), e é sempre a mesma conversa.

A Copa de 90 ficou conhecida como a do "futebol feio", retranqueiro, com reduzida média de gols. A Irlanda ficou famosa por chegar às quartas-de-final daquela Copa empatando todos os jogos em 1 a 1 ou 0 a 0, até perder pra Itália. Mas, por outro lado, foi uma Copa com Maradona, Caniggia, Van Basten, Gullit, Careca, Müller, Maldini, Klinsman, Lothar Matthaus, Lineker e o futebol alegre do surpreendente Camarões. Sem falar que os poucos azarões não eliminaram os melhores times, possibilitando épicos duelos como Argentina x Brasil, Itália x Argentina, Alemanha x Inglaterra, Holanda x Alemanha e a finalíssima repeteco Argentina x Alemanha.



Pra 94, a FIFA mudou algumas coisas, dando 3 pontos pra vitória, impedindo o recuo pro goleiro e orientando os juízes a punir com mais rigor a violência e o anti-jogo. Mas de novo, reclamaram do futebol feio. De fato, 94 foi uma entressafra de craques jogando sob o calor escaldante do verão americano em horários feitos sob medida pra TV. Mas a Romênia, a Holanda e a Argentina (até Maradona e Caniggia serem pegos no anti-dopping) jogavam bonito. E, quando faltou técnica, houve emoção de sobra, principalmente na dramática final em que Brasil e Itália esbanjaram incompetência.



Quem já reclamava do nível técnico da Copa começou a ter chiliques e piripaques quando a FIFA elevou o número de equipes particantes para 32, ao invés de 24 como antes, abrindo vagas a rodo pra África, Ásia, América Central e do Norte. Teve jornalista que choramingou a primeira fase inteira, tendo que cobrir partidas até então inimagináveis numa Copa do Mundo como EUA x Irã, Jamaica x Japão e Arábia Saudita x África do Sul. Mas embora não houvesse nenhuma equipe excepcional naquela Copa, Holanda, França, Croácia, Iugoslávia, Argentina, Inglaterra e até o Brasil tinham seus momentos de brilho. Sem falar em grandes duelos das quartas-de-final em diante: Argentina x Holanda, Itália x França, Brasil x Holanda e o memorável 3 a 0 imposto pela Croácia na decadente Alemanha. Pena que todo mundo só lembra dessa Copa pra especular sobre o "troço" que Ronaldinho sofreu antes da final.



Veio 2002, e tome a mesma vitrola quebrada. O fato da FIFA sediar o mundial no Japão e Coréia do Sul, dando a 2 seleções meia-boca a cabeça de chave e avacalhando o sorteio todo - possibilitando a criação de um "grupo da morte" ridiculamente difícil foi só o começo do problema. Depois, vieram as arbitragens suspeitas para os times da casa, e os favoritos foram caindo antes da hora. Por outro lado, o Brasil tinha sua melhor seleção em muitos anos, com Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho em grande fase. Uma Copa de um time só ainda assim pode encher os olhos - vide Holanda em 74. Além do Brasil, mas num plano existencial abaixo, podíamos citar a própria Inglaterra e o azarão Senegal como destaques daquele torneio.



É natural que a Copa do Mundo seja disputada num nível técnico um tanto inferior ao que se vê nas milionárias e globalizadas ligas européias. Afinal, os jogadores vêm de uma temporada longa, estão menos entrosados que em seus clubes e jogam priorizando a retranca, já que na Copa toda partida é decisiva e uma derrota, mesmo que na primeira fase, é quase uma garantia de fracasso. Os tempos da Copa do Mundo como única oportunidade de ver os astros do futebol de diferentes países se enfrentando já ficaram para trás há uns 20 anos. É um processo irreversível, exceto se alguém estiver disposto a pagar aos jogadores sul-americanos e africanos a mesma fortuna que ganham em seus clubes para se dedicar somente à seleção e às falidas ligas de seus países.

E parem de reclamar, afinal, quem assiste Campeonato Brasileiro não pode reclamar de nível técnico - ainda mais atleticano, agora acostumado à horrenda Série B.

 

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 Nikolas Spagnol - Jornalista, atleticano sofredor, tradicional saco de pancadas do futebol de botão e frangueiro de pelada.

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